Um dos aspectos mais agradáveis de escrever sobre a indústria de TI é prever o que o ano novo terá à venda nas lojas. Pode ser divertido olhar dentro de uma bola de cristal, mas percebemos que quando começamos por aí não teríamos escolhido as histórias maiores, porque elas são as que ninguém vê chegando; tal como o exemplo oportuno, quem previu que o caso do Snowden e bisbilhotice da NSA (Agência de Segurança Nacional) dominariam as manchetes? Da mesma forma, até as grandes histórias no começo do ano podem parecer bem distantes no final: De volta em abril a aquisição da Summly pelo Yahoo pareceu bem dramática, mas em retrospectiva acabou sendo um início de ano de aquisições e IPOs (ofertas públicas iniciais)que fez com que comentaristas sazonais alertassem sobre um novo nicho de tecnologia. Dessa forma, sem mais delongas, apresento aqui minhas tentativas otimistas para prever as novidades tecnológicas de 2014.
1. A Nuvem vai voltar
A premissa de Computação em Nuvem (Cloud Computing) permanece excelente, oferecendo elasticidade, dimensionamento, provisão de self-service, interfaces padronizadas e medição de serviço; que, juntamente, devem fazer com que a IT un (União Internacional de Telecomunicações) seja menos complexa e mais confiável. No entanto, ela nunca precisou adequar intrusões previstas em empreendimento de TI e esse ano as revelações da NSA sobre o caso Snowden geraram receios sobre a segurança de dados da Cloud, até o ponto em que países, provedores de serviços e a União Européia viessem a sugerir meios de manter dados dentro de determinados limites.
Eu acredito que os serviços da Cloud não serão afetados negativamente quanto o previsto, apesar de não me surpreender se houver uma mudança de mercado, sugerindo algum distanciamento de grandes firmas americanas em prol de alternativas mais locais. Acredito também que as soluções técnicas, tais como criptografia, serão adotadas em grande escala pelos provedores de serviço na ausência de proteções legislativas (especialmente em relação a clientes não americanos).
2. A Cloud e a Mobilidade transformarão aplicativos empresariais ou então
Quando se trata de reconstruir aplicativos empresariais, há um desafio que tanto a Cloud quanto à mobilidade corporativa aponta: Como operar transações frequentes com dados remotos. À medida que essas duas investidas vão se tornando cada vez mais adotadas, até mesmo os maiores e mais pesados aplicativos empresariais serão rearquitetados para que operem sem dificuldades nesses novos ambientes… ou serão utilizadas plataformas inteligentes de integrações e aplicativos para produzir fluxos de trabalho multicanal sem emendas que irão encantar os usuários.
3. Big Data + Segurança = Grandes Preocupações
Nos últimos meses o mundo começou a se despertar pelo que muitos de nós já sabia há anos: Que a quantidade de dados que os gigantes da Internet coletam é uma ameaça potencial à privacidade, que os sentimentos altamente solidários da Silicon Valley não significam muito no mundo real, e que nós precisamos ficar espertos sobre nosso comportamento on-line. Esses receios continuarão a aumentar em 2014 à medida que os gigantes da web continuarem a procurar por novos meios de monetizar dados de usuários e eu acredito que alguns serviços inovadores serão desenvolvidos para ajudar as pessoas a readquirirem controle de suas vidas on-line. Certamente haverá demanda e a alternativa (perda pública e massiva de confiança na Internet) não estabelecerá um novo arranque, pois as alternativas já se esgotaram há muito tempo.
4. Os multicanais se tornarão a norma
Atualmente os aplicativos tendem a ser escritos para um canal ou outro e os usuários precisam fazer com que isso seja o suficiente. É verdade que o multicanal permite que aplicativos sejam desenvolvidos uma vez e operem em qualquer tipo de dispositivo ou sistema operacional e uma vez que o mundo móvel está caminhando em direção a um aumento de conjuntos de dispositivos, cada um otimizado para um contexto específico de usuário, faz sentido permitir que os usuários façam a melhor utilização possível deles.
Semelhantemente, 2014 será o ano que as empresas compreenderão e aceitarão o fato de que os usuários estejam escolhendo sistemas operacionais diferentes e permitirão que eles o façam eficazmente. Temos visto a partir do mundo do consumidor que o apego dos usuários a dispositivos e ecossistemas tem aumentado, e, permitindo que eles façam a sua escolha aumentará a produtividade.
5. Ninguém vai bloquear dispositivos de vestir (wearables)… mas a hype aumentará
Eu não acho que os dispositivos de vestir ganharão impulso em massa no mercado em 2014, mas realmente acredito que veremos algumas tentativas interessantes nessa área. A barreira principal nesse mercado será convencer os consumidores que devem comprar outro dispositivo além dos seus caros smartphones e tablets e de aceitação cada vez maior no mercado. O smartwatch Galaxy Gear mostrou que o mercado não está interessado em aceitar o primeiro lançamento e há uma percepção de que todos estão esperando que a Apple lance alguma coisa nesse sentido. Apesar disso, o antecipado lançamento público do Google Glass sem dúvida chamará a atenção e gerará imitações, mas eu não acho que esse seja o dispositivo que definirá o setor, e , tal como mencionado acima, a reação principal em relação ao Google Glass é um receio de que o usuário esteja gravando tudo que vê.
6. Os pagamentos móveis continuarão a crescer
Apesar deles provavelmente não dominarem a venda de varejo tão cedo eu acredito que as soluções de pagamentos móveis serão cada vez mais importantes para a compra on-line. Pesquisas indicam que os clientes estão investigando e tentando comprar on-line, mas que isso os está frustrando e os varejistas precisam de uma solução para a “síndrome da cesta abandonada”. As soluções tradicionais de pagamento on-line não apresentam uma interface móvel trabalhável, tal como mencionado acima em “multicanal”, assim sendo, isso parece ser uma boa pedida para a indústria.
7. A navegação interna será um ponto-chave
A Apple começou a lançar sua tecnologia iBeacon nas Lojas Apple, e, como sempre, significa que todos seguirão os que aderirem a essa tecnologia. Não é apenas publicidade exagerada; de fato a navegação interna é uma das tecnologias mais estimulantes para lojas de varejo a estádios esportivos, aeroportos, depósitos e transporte público. Eu estimo que isso seja amplamente evidenciado em 2014.
8. Pesquisas inteligentes se tornarão amplamente aceitas
Eu previ no início de 2013 que pesquisas dentro de contextos mais inteligentes seriam o futuro, pois o insumo do aprendizado por máquinas e a linguagem natural chegariam ao ponto em que os motores de busca seriam capazes de encontrar informações que você, pessoalmente, estivesse procurando e fosse capaz de apresentá-las de uma forma que fosse útil ao que estivesse tentando realizar. Chegar a esse estado futuro requer a compreensão do contexto do usuário assim como suas preferências, de modo que acredito que essa pesquisa inteligente aumentará com a mudança esperada para aplicativos multicanal, a Internet das Coisas e Big Data, todos eles podem dar dicas sobre o contexto do usuário.
9. A Internet das Coisas vai chegar (finalmente)
Estamos esperando desde 1999 pela Internet das Coisas, mas o aumento da quantidade de dispositivos “smart” ou conectados significa que ela está se tornando real. Uma vez que o conceito é simplesmente imaginar o tipo de informação que usuário deseja sobre um dispositivo ou o que ele quer que o dispositivo faça, se será necessário ter sensores extras e então apresentar os dados de forma útil, a conexão de dispositivos será uma tendência chave.
10. Os tablets se tornarão os dispositivos corporativos preferidos
Eu acredito fortemente que a mobilidade corporativa é o futuro e isso significa que funcionários necessitarão intensamente de dispositivos portáteis que sejam bem potentes, capazes de executar “trabalho sério” com os sistemas de back-end da empresa e também fáceis de serem utilizados nas tarefas do dia a dia. Os tablets na faixa de 7 a 12” parecem se enquadrar nesse futuro muito bem, especialmente com opções de expansibilidade tais como teclados e portas extras para telas (monitores). Os desafios estão claros: A falta de software de escritório com todos os recursos (ERP [Planejamento de Recursos Empresariais] independentes e de fácil manuseio), escolha reduzida de métodos de entrada e segurança de dados têm sido as barreiras para a adoção de tablets. No entanto, as plataformas de aplicativos atuais são capazes de prover facilidade de acesso móvel a sistemas de back-end, aplicativos baseados em fluxo de trabalho que reduzem a necessidade de entradas por mouse e teclado ou telas adicionais e aumento de segurança de dados. Eu não sei onde estará o ponto de convergência entre a alta funcionalidade tradicional ou laptop de baixa mobilidade e o ultra-móvel ou principalmente o tablet orientado para o consumo de conteúdo, mas em 2014 veremos um aumento de aceitação desses dispositivos como as principais ferramentas de trabalho.
11. O Google continuará a mudar seu foco de Android para serviços Google
O ecossistema Android é muito estranho: O Google adotou um sistema operacional projetado para câmeras e o desenvolveu de forma a produzir um sistema operacional para smartphone sem receios de que a Apple dominasse o mercado e fosse capaz manter as receitas dos serviços do Google e de propagandas sob seu controle. Apesar de ter se tornado o sistema operacional móvel mais amplamente comercializado ele ainda permanece altamente fragmentado e tal como o ecossistema Windows antes dele, o arrebatador mundo do OEM (Original Equipment Manufacturer – Fabricante de Equipamento Original) sem praticamente nenhuma margem significa que ele opera principalmente em dispositivos sub-padrões. Além disso, sua principal beneficiária, a Samsung, está se tornando exatamente o que o Google temia inicialmente, copiando patentes da Apple e trapaceando em testes de bancadas, assim como em seus esforços para construir seus próprios sistema operacional e apps de modo a ganhar parte das receitas que hoje são do Google.
Há sinais de que o Google estaria iniciando uma revanche e possivelmente até mesmo se afastando do Android em direção ao sistema operacional Chrome, que é bem mais concentrado nos serviços do Google. Primeiro, Andy Rubin foi removido do projeto Android para ser substituído pelo gerente da Chrome, Sundar Pichai. Então, foi lançado o dongle de smart TV Chromecast sob a marca Chrome apesar sua operação necessitar de uma versão reduzida do Android (sem a camada que opera apps, essencialmente). Por fim, a tão esperada versão 5 do Android, Key Lime Pie, foi lançada com um atraso bem maior que o normal antes de ser finalmente lançada como a versão 4.4 “KitKat” em um espetáculo de marketing meio bizarro. Bizarro talvez, mas certamente conseguiu chamar a atenção para comentários com base no fato de que essa versão chave (KitKat é menos intensiva em relação a recursos, e. portanto, oferece a possibilidade de operar celulares de camadas intermediárias nos sistemas operacionais mais recentes) foi considerada apenas como uma atualização ao invés de uma nova versão.
12. As guerras de CRM (Customer Relationshop Management – Gerenciamento de Relacionamento com o Cliente) continuam a ser acirradas
A escolha do SugarCRM pela IBM esse ano destacou alguns pontos falhos curiosos na indústria, levando a dúvidas sobre a validade da computação em nuvem apenas para todos os clientes em relação a quanto os clientes estão interessados em se manterem aderidos a uma tecnológica específica (tal como o Oracle). Eu prevejo duas tendências emergentes em 2014: Em primeiro lugar, os fornecedores se empenharão mais para controlar toda a tecnologia de software, tal como a SAP fez na década de 80; em segundo lugar, os clientes retaliarão utilizando ferramentas de integração acionadas por processo capazes de juntar qualquer CRM em qualquer tecnologia, rapidamente, sem emendas e sem precisar investir em um novo portal. Ao se concentrar em fluxos de trabalho todas as partes do negócio serão capazes de utilizar um único sistema com todas as funcionalidades que precisam – e com apenas a funcionalidade que precisam pessoalmente. Além disso, esses sistemas serão integrados com as plataformas de aplicação móvel para torná-los disponíveis em qualquer dispositivo, de uma forma que faça sentido para o contexto atual do usuário.
13. E por fim… alguma coisa grande do Google?
Durante os últimos seis meses o Google fez algumas aquisições muito interessantes na área de robótica. A aquisição da tecnologia de navegação social Waze em junho foi seguida pelo software de reconhecimento de gestos Flutter e Schaft, Industrial Perception, Redwood, Meka, Holomni, Bot & Dolly e Boston Dynamics, todas elas empresas de robótica. Isso é uma mudança radical no foco do Google, além de suas aquisições em março e abril da DNNResearch (Redes Neurais Profundas) e a tecnologia de processamento de linguagem natural Wavii, parece que o Google está seguindo em direção a grandes mudanças de objetivo. É muito improvável que tudo isso seja para o setor de conexão; e alguns desses estão no campo de robótica humanóide. Eu não sei o que o Google está desenvolvendo, ou como isso nos afetará nos negócios, ou mesmo se saberemos alguma coisa durante 2014, mas seja lá o que for, eu acho que será revolucionário.
Essas são minhas previsões para 2014; espero ver quais ocorrerão e quais foram estimadas incorretamente no final do ano. Seja lá qual for o resultado de minhas previsões desejo a todos um feliz e bem sucedido 2014.