No artigo State of Mobile do passado eu previ que o ritmo de inovação e ruptura no mercado de mobilidade implicaria em um mundo muito diferente hoje. O mundo da mobilidade continua a mudar em ritmo acelerado, então aqui estão minhas considerações para o que é importante para o momento que estamos vivendo hoje.
iOS vs Android
Se há uma coisa que não muda, é que você dificilmente lerá uma página na internet sobre tecnologia sem que conste, pelo menos, um artigo prevendo “vitória” para um ecossistema ou para o outro, mas, felizmente, a realidade é mais sutil e muito mais interessante. Primeiramente, Mobilidade não é uma “corrida de cavalos”: o primeiro a passar a linha de chegada não “ganha” o dispositivo, e não há sequer uma linha de chegada, em primeiro lugar. Ao invés disso, temos duas das maiores e mais inovadoras empresas desenvolvendo visões concorrentes do futuro, mas a batalha é fornecer o produto e os serviços que os usuários vão preferir usar.
O Google está tomando de volta o Android dos OEMs?
O interessante, no entanto, é que no ano passado o lado Android mudou de forma significativa, possivelmente devido à saída de Andy Rubin do projeto Android (o que ocorreu pouco antes do meu artigo Situação da Mobilidade anterior). Aqui segue um rápido balanço:
- A Samsung decepcionou seus investidores com o lançamento do medíocre smartwatch (relógio inteligente) Galaxy Gear, um produto que parecia ter sido lançado às pressas no mercado para provar que a Samsung poderia ser a inovadora em criação no segmento em que ela almeja ser, mas acabou reforçando a ideia de que é melhor ser um seguidor atento e ligeiro que aperfeiçoa produtos já existentes, o que, no fim das contas, é o que seu histórico corporativo demonstra. Não deveria ser vergonhoso aperfeiçoar mais do que inventar (apesar de que seria bom fazê-lo sem violar tanto IP), mas a gigante Coreana perdeu muito de seu brilho este ano.
- O Google lançou-se ainda mais para a briga com a aparente perspectiva de que nada deveria importar mais do que os serviços com os quais o usuário interage. Os smartphones Moto G e Moto X, assim como o Nexus 5, são todos inferiores a muitos concorrentes Android, mas constantemente recebem elogios dos críticos pela facilidade de uso, pelos preços mais baixos e desempenho melhor do que o esperado. Durante anos, comprar um telefone Android de médio ou baixo nível significou ao usuário submeter-se a um grau de experiência terrível, mas há bons sinais de que tudo isso pode mudar, permitindo a um espectro mais amplo de usuários desfrutar os benefícios de um verdadeiro smartphone. Com os dados indicativos de que muitos usam telefones Android apenas como função telefone, isto não mudará em breve.
- Após anos de frenéticos lançamentos de versões Android, cada um parecendo fragmentar ainda mais o ecossistema, a muito anunciada versão 5 “Key Lime Pie” foi abandonada em favor da versão mais incrementada 4.4 “KitKat”. KitKat é de particular interesse pois rodará em aparelhos mais antigos (sujeitos aos OEMs recebendo suas atualizações de fora, é claro) e está fazendo o Android parecer mais um sistema operacional que roda no dispositivo e executa os serviços com os quais você realmente interage, do que o dispositivo em si.
- O lançamento do dongle Chromecast de transmissão de TV, em que é executado um sistema operacional mais parecido com o Android, sem a camada de aplicações do ChromeOS, sugere ainda que, para o Google, é tudo uma questão de serviços. Observe também que as palavras que faltam em qualquer discussão do Google Glass são “Android” ou “Chrome” e não seria uma grande surpresa sugerir que o Google está indo de volta para o futuro quando tudo é sobre “[Produto]Google” ao invés de algo que pode ser facilmente levado pelos concorrentes.
iOS em boas mãos
A Apple também decepciona alguns de seus investidores, ano após ano, apesar de desempenhos altos e constantes. A razão disso é que muitos analistas esperam que a Apple continue a abrir novos segmentos de Mercado com smartwatches e “iGlasses”, esquecendo que a razão pela qual a Apple é tão bem sucedida é seu foco inabalável em criar dispositivos que os usuários irão amar. Mais do que tentar criar novas categorias de produtos, a Apple aparenta focar em tornar os já existentes ainda mais eficientes e esta abordagem está, por si mesma, criando alguns produtos revolucionários, como por exemplo, navegação interna alimentada pelo movimento do co-processador do iPhone 5S e baixo consumo de energia dos Bluetooth iBeacons. A insistência da Apple em mirar o topo do mercado de telefones celulares está, claramente, se pagando com altas rentabilidades continuamente crescentes, ano após ano, e enquanto o iPhone5C não tem sido tão popular quanto o esperado, a maioria das más notícias que ele atraiu parecem ter vindo de jornalistas e analistas que não podiam realizadas suas fantasias de um iPhone de nível médio. Ao invés disso, é um produto premium com uma estética muito diferente da faixa existente, e portanto, provavelmente encontrará espaço entre um público ligeiramente diferente, uma vez que os consumidores já se refizeram do choque que ele é “diferente”.
Será interessante ver o que a Apple trará este ano, e como ela progrediu com relação à tecnologia de navegação interna. Você pode, provavelmente, dizer que eu estou muito animado com este avanço, e com ambas as perspectivas tanto corporativa quanto de usuário, eu sinto que este é um grande passo para o Big Data mobile, assim como a abertura de novos caminhos para nós nos locomovermos.
Para onde vai o Windows?
Independente de você considerar Desktop Windows, tablets ou smartphones rodando Windows Phone, o barulho e a fúria gerados em torno do Windows 8 no ano passado foram abafados a um nível próximo da apatia. Talvez seja injusto, depois de todo esse tempo durante o ano passado em que os usuários procuravam por seus botões de “Iniciar” e esperavam que a Microsoft os devolvesse se eles fizessem alarde suficiente. Para ser justa, a Microsoft devolveu o botão…
Agora, os usuários do Windows 8 (que ainda representam uma pequena porção do mercado de PCs) ou aprenderam a usar o novo sistema operacional (o que não é tão difícil assim) ou encontraram seu mix preferido de soluções alternativas (como o Start8 para recriar o menu “Iniciar”, ou o ModernMix para rodar os aplicativos do Windows 8 como área de trabalho tradicional). Ao invés disso, o alarde impediu o Windows XP de morrer definitivamente e fez com que a Microsoft arrumasse uma maneira de tratar os clientes que se recusam a fazer o upgrade do sistema.
Pessoalmente, espero que a aquisição da Nokia insufle vida nova a ambas as empresas no setor de Mobilidade, e que o novo CEO repare o problema dos “buracos nas lojas de aplicativos”, prioridade número 1 para as equipes Windows. Os boatos de que os OEMs e até mesmo a Intel estejam fazendo planos para um futuro sem Windows sugerem que o tempo está se esgotando, a menos que a Microsoft faça uma mudança significativa. Eu acredito que a empresa seja capaz, mas eles a farão?
Conteúdo permanece rei na Amazon
Eu já escrevi anteriormente que a Amazon poderia fazer muito sucesso no setor de Mobilidade porque nós estamos acostumados a procurar e fazer compras através de seu site. A Amazon passou de simples provedor de conteúdo a gravadora de suas próprias séries de TV e o próximo passo será tornar-se um local automático para se ir na internet, fornecendo notícias transmitidas e conteúdo de entretenimento. Existe também o fato de o tablet Kindle Fire ser um excelente visualizador de mídia portátil com um preço decente. Ele não substituirá seus outros aparelhos móveis “sérios” da mesma forma que o iPod não substituiu seu sistema hi-fi doméstico; mas isso não o impedirá de ser uma companhia como dispositivo ideal para férias ou “segunda tela”.
Nem todos conseguiram…
Olhando de volta o artigo Situação da Mobilidade do ano passado, o que parece ter sido há muito tempo atrás foi a importância que eu dei para a Blackberry e a Tizen. Há um ano, a Blackberry havia acabado de lançar o BB10 que parecia ser muito promissor, mas nunca conquistou muitos consumidores a ponto de transformar a empresa; de novo, em parte em função da falta de aplicativos, apesar de que a preocupação na longevidade da Blackberry naquele ponto deve ter desempenhado um papel importante. A Tizen, uma alternativa ao Android nascida na casa da Samsung, parece ter sido a maneira em que a Samsung pensou para tirar o Google de suas margens de rentabilidade, mas ainda não se difundiu. Por outro lado, a Tizen ainda está na infância e talvez a Samsung ainda não tenha sentido que é o momento certo para lançá-la mais amplamente.
2014 promete ser um ano bastante excitante na Mobilidade, com outros desenvolvimentos em acessórios, o crescimento contínuo em aplicativos de mensagens móveis e, sem dúvida, outras coisas que nós nunca veremos a caminho até que estejam aqui de fato. Em Mobilidade corporativa, eu creio que o surgimento de análises em tempo real e aplicativos multi-canal baseados em processo têm o potencial de alterar a forma como fazemos nossos trabalhos diários assegurando que as decisões possam a ser baseadas em dados reais ao invés de suposições e extrapolações.
Parece que os grandes fabricantes estão se consolidando antes de lançar o próximo pacote de inovações e será muito interessante esperar o que acontecerá em seguida. Seja a próxima grande novidade em tecnologia de acessórios, a Internet das Coisas, Big Data ou apenas uma versão melhor do que já temos, estarei escrevendo um novo relatório como este na segunda metade de 2014, e espero que a paisagem esteja bem diferente.