A ponte e a estrada

Um determinado governo queria construir uma estrada ligando duas importantes cidades.

Procurou uma construtora e definiu os termos do projeto: quero uma estrada asfaltada, entre estes dois locais, feita com materiais da melhor qualidade e com a mais avançada tecnologia.

A construtora se qualificou para o trabalho e informou que precificava por “km” de chão pavimentado.iStock_000018109034XLarge_2

Calcularam o total de 100 km de estrada (incluindo-se as curvas ), definiram os valores, e iniciaram-se os trabalhos.

Durante as obras, a construtora se deparou com um rio no meio do trajeto, desconhecido, nunca antes mencionado durante as negociações.

A contratada (construtora) foi até a contratante (governo) e informou da necessidade de um aditivo no projeto, pois agora também seria necessária uma ponte e até então, só o chão de terra pavimentado havia sido cogitado no projeto.

O governo (contratante) não concordou, e argumento: eu pedi uma estrada e já acertei o valor por ela.

Se você tivesse que mediar esta causa, como um juiz, a qual dos dois está tentado a dar a razão?

Esta estória (metáfora) retrata bem um dilema na vida de quem trabalha com projetos: definição do escopo.

Quem contrata, sabe o que quer receber no final. Quem é contratado, sabe pelo que está sendo pago. Mas por mistérios que não serão detalhados neste post, muitas vezes estas duas partes não estão em sintonia.

O contratado pode argumentar com razão: eu vendi, e recebi “km” de chão pavimentado. Não vendi “ponte” e por isso, não tenho a obrigação de fazê-la segundo os termos do nosso acordo.

A contratante pode argumentar com razão: eu comprei uma estrada, acertei o preço, e agora quero receber a estrada pronta.

O que está ocorrendo aqui é uma falta de definição clara do que se estará entregando, e do que se está esperando receber. Ou seja, o escopo do projeto não ficou claro. Contratada e contratante entenderam a sua maneira.

Como trabalhador na área de projetos de software, estou um pouco inclinado a concordar mais com a contratada .

Mas entendo que não há santos nesta situação.

A contratada poderia ter deixado claro no contrato: estou recebendo para pavimentar 100 km de chão, e é apenas isso que entregarei. Qualquer coisa, além disso, precisa ser negociado à parte.

A contratante também poderia ter explicitado no contrato: estou comprando a construção de uma estrada, e quero receber a estrada com tudo que possa ser necessário nela.

Mas não foi o caso. E muitas vezes não é.

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O fechamento do acordo (contrato) é um momento em que se evita tocar em assuntos que gerem animosidades, por ambas as partes. A ideia é que quaisquer arestas que possam aparecer sejam naturalmente tratadas, negociadas e resolvidas através de futuros acordos e reuniões. Muitas vezes inclusive por outras equipes, que não aquela que selou o acordo (contrato).

Isso é até normal, quando a concordância vem. Mas quando ela não vem, uma renegociação se transforma às vezes em gerenciamento de crise.

Por isso, ao menos na minha simples maneira de ver, fica uma dica para tentar diminuir esse tipo de stress: atente, cautelosamente, para os termos do contrato que está sendo firmado.

Quem está contratando: cuide para deixar suas expectativas bem explícitas, e detalhe tudo o que deseja ver e receber.

Quem está sendo contratado: atente para as obrigações assumidas e deixe claro o que realmente está sendo adquirido e será entregue.

Um contrato de projeto/trabalho não é local para coisas subentendidas ou implícitas.

Lembre-se: o que valerá é o preto no branco. Quem imaginou uma coisa, mas expressou outra, acabará arcando com o ônus das disputas.

Manoel Frederico - Gerente de Produto e Magic Evangelista
Manoel Frederico – Gerente de Produto e Magic Evangelista

5 comentários

  1. Esta dica deve ser levada muito a serio, porque tive problemas no passado com este tipo coisa de não detalhar tudo em contrato (Preto no Branco) que no final é o que vai valer no final até mesmo em uma negociação amigável.

  2. Bom dia,

    Caro Manoel

    Este su exemplo acertou em cheio, quando falamos de expectativas, visto que o contratante queria a estrada e entende que ao comprar o serviço, seja prevista a mesma com toda a suas complicações e variações, e o contratado tentando efetuar o preço mais baixo, desconsiderando alguns pontos chaves na construção do objeto alvo..
    Temos que nos atentar sempre para os detalhes e procurar ver ou antever o que nos espera.
    Grato

  3. Dentro do espírito Latino-Americano, eu como juiz decidiria que a contratada entregará toda a estrada a exceção da ponte, e a contratante decidirá quem ela contratará para fazer a ponte.

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